Apresentação

Encontro Poético é uma proposta e uma homenagem.
Proposta porque trata-se de um estudo que a poetisa Rita Encinas tem elaborado sobre as influências da poética internacional, clássica e contemporânea, sobre o trabalho dos novos autores brasileiros, especialmente os que têm apresentado suas poesias nos diversos espaços disponíveis na internet, como blogs, fóruns e sites de relacionamento.
E homenagem porque aqui ela pretende apresentar as poesias das quais ela mesma mais gosta e, com isso, levar aos seus leitores uma visão ampla sobre o que vem a ser, na sua opinião, a beleza poética.
De qualquer forma é, sem dúvida, um ótimo painel sobre a arte, seja para leitores experientes que podem aqui encontrar alguns de seus textos favoritos, como para leigos que podem a partir deles iniciar-se no maravilhoso mundo da poesia.
Boa leitura!
Cerito Silva

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quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Lembro-me bem do seu olhar












Lembro-me bem do seu olhar.
Ele atravessa ainda a minha alma,
Como um risco de fogo na noite.
Lembro-me bem do seu olhar. O resto…
Sim o resto parece-se apenas com a vida.

Ontem, passei nas ruas como qualquer pessoa.
Olhei para as montras despreocupadamente
E não encontrei amigos com quem falar.
De repente vi que estava triste, mortalmente triste,
Tão triste que me pareceu que me seria impossível
Viver amanhã, não porque morresse ou me matasse,
Mas porque seria impossível viver amanhã e mais nada.

Fumo, sonho, recostado na poltrona.
Dói-me viver como uma posição incómoda.
Deve haver ilhas lá para o sul das coisas
Onde sofrer seja uma coisa mais suave,
Onde viver custe menos ao pensamento,
E onde a gente possa fechar os olhos e adormecer ao sol
E acordar sem ter que pensar em responsabilidades sociais
Nem no dia do mês ou da semana que é hoje.

Abrigo no peito, como a um inimigo que temo ofender,
Um coração exageradamente espontâneo,
Que sente tudo o que eu sonho como se fosse real,
Que bate com o pé a melodia das canções que o meu pensamento canta,
Canções tristes, como as ruas estreitas quando chove.

Fernando Pessoa

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